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O mago branco dos sons esteve na terra e com a água ele tocou

“Improvise na viola, se não, não se consola”

Um copo de água, uma guitarra e um piano. Hermeto Pascoal fechou sua oficina com uma improvisação em copo de água, água que ele mesmo lançou para cima em sua bênção a musicalidade do ser humano. O chapéu já estava no chão do palco do Centro de Artes da Ufpel, onde dezenas de músicos e interessados pela icônica figura da música brasileira ouviram, cantaram e tocaram instrumentos para e com Hermeto. – Só acha complicado quem se complica. Eu sou assim. Sempre gostei de tirar sons das coisas. Na minha terra quando eu era pequeno, não tinha luz até eu fazer 14 anos – explica Hermeto, a uma platéia que acompanhou suas histórias e ensinamentos. Simples e direto, o instrumentista e compositor falou de detalhes de sua carreira e instigou os presentes a fazerem perguntas. Nesse ritmo, o homem de fala gentil e bem humorada deu uma verdadeira aula de musicalidades. – Não existe nada desafinado. Existe sim o bom gosto. É preciso primeiro sentir para depois saber. Sentir muito, muito sentir. A voz é um instrumento e todo o corpo também – definiu Hermeto. As questões colocadas pela platéia passaram pela questão da composição intuitiva, a escolha de músicas para compor uma obra, a criação e até a relação entre professores e alunos. Hermeto colocou que a teoria é maravilhosa, desde que se saiba usá-la. Sempre afirmando o caráter único de cada pessoa na criação musical o compositor disse que a tecnologia deve ser sim bem usada, mas sempre com a ressalva de que o computador não cria a música sozinho. Pai de seis filhos e avô que espera o sétimo bisneto, Hermeto explica que o nome é sempre a última coisa: – Não dá para colocar o nome antes de a criança nascer. Por isso eu não poso preparar antes algo que eu quero que seja novo. Para selecionar, a gente decide mesmo é na hora o que vai tocar – explica Hermeto, autor de mais de seis mil músicas, a maioria ainda sem nome.

Como ele mesmo incentivou, vários músicos pediram para tocar para e com Hermeto. Primeiro foi piano e violão, executando uma das peças mais famosas do compositor, Bebê. No meio da apresentação Hermeto interrompe, conversa, ensina e manda seguir. Depois entra em cena uma flauta e tambor, logo secundadas por mais um tambor e um rapaz que tocava uma lâmina de metal, que no final foi presenteada para o artista que testou para ver se funcionava mesmo puxando uma Asa Branca. – Eu gosto quando eu consigo fazer uma canção. Tudo tem sons, mas nem tudo possui melodia. Você toca guitarra.. mas e a guitarra toca você? – indagou Hermeto, risonho. Para demonstrar que o corpo é um instrumento ele “tocou” fazendo percussão no torax de quatro voluntários. Tocou também uma tampinha de garrafa e o piano, onde chamou sua cantora para fazer uma peça de Mozart. Seus tênis coloridos, a camisa azul de bolinhas e a calça cinza sairam do palco levando uma das figuras mais criativas do seu tempo e que considera a música a alegria e a união dos povos.


Fotos do show de encerramento do Pelotas Jazz Festival 2014 – Fotos Daniela Xu


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