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Direção da UFSM-FW se pronuncia pela primeira vez após mobilização de alunos

Arci Wastowski, atual diretor do campus da UFSM em Frederico Westphalen, concedeu entrevista pela primeira vez após a ocupação das dependências do Departamento da Comunicação

O ano de 2016 é tratado como um ano histórico pelo campus de Frederico Westphalen da Universidade Federal de Santa Maria, afinal, a instituição de ensino completou 10 anos em outubro. Além disso, pela primeira vez em sua recente história acadêmicos se mobilizaram para ocupar as dependências do campus. Após uma assembleia geral conturbada no dia 10, alunos dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas realizaram uma nova assembleia –desta vez apenas com acadêmicos dos cursos do Departamento da Comunicação (Decom) – e definiram no dia 16, mesma data da segunda assembleia, por ocupar os espaços destinados para a utilização do departamento.

Já com pouco mais de uma semana de ocupação, o diretor do campus, Arci Wastowski, se pronunciou oficialmente pela primeira vez nesta quinta-feira (24), em entrevista realizada pela Agência Da Hora. Foram mais de 40 minutos de conversa em que o diretor explicou o motivo pelo qual a direção não se manifestou oficialmente até o momento. Abaixo você confere a entrevista na ÍNTEGRA:

Agência Da Hora - A ocupação dos alunos completou uma semana na quarta-feira, até o momento, os alunos questionam o porquê de a direção não ter se posicionado oficialmente. Qual seria o posicionamento oficial quanto as recentes ações e porquê não foi feito antes?

Arci Wastowski – Estamos em um momento bastante conturbado. Nós estávamos esperando o próprio reitor fazer um posicionamento, para saber o que a gestão de lá (Santa Maria) pensa sobre a greve dos professores, dos técnicos e as ocupações dos alunos. Estamos acompanhando as ocupações. Aqui, elas ficaram voltadas somente aos prédios do departamento do Decom e pelo o que eu sei, eles estão tendo algumas aulas. Nos outros departamentos, nós até fomos atrás, mas por enquanto houve manifestações pontuais, mas a maioria está dando aula.

O reitor se manifestou e é o que nós estamos seguindo hoje em relação a tudo isso. Existe muita dificuldade em ter acesso a ter as informações de lá, mas mesmo assim, conversamos muito entre os diretores por whats app. A nossa posição é a de apenas acompanhar o que está acontecendo, na sede e nos campus, e também em relação a professores e técnicos.

Como estamos na gestão, nós não podemos fazer greve. Até sobre participar das mobilizações, nós ficamos com o pé atrás. Posso ir lá, mas não posso participar da greve, porque estou na chefia, entende. Eu não posso abandonar o cargo, porque estou na chefia. Sou obrigado a ficar aqui. Então resolvemos acompanhar e ver o que as categorias vão decidir, até para a gente não influenciar, nem nas ocupações, nem greve dos técnicos e nem dos professores.

Essa decisão de fechar com greve, é uma decisão que tinha que ser tomada. Isso minimiza nós aqui também...

Agência Da Hora - Nós direção ou nós o campus?

Arci Wastowski - Nós direção e campus também. Porque tendo greve dos professores, para as aulas. Então praticamente os prédios vão ficar todos desocupados, no sentido de aulas. Isso minimiza o que os alunos estão nos cobrando, que é um posicionamento escrito. Mas estamos conversando, cuidando, falando com todo mundo para não ter atrito com quem é a favor da ocupação e quem é contrário. Assim como na categoria dos docentes, nós estamos cuidando para que não tenha atrito entre quem quer e quem não quer fazer greve. E quanto aos técnicos é a mesma situação. Cada colega pode escolher se quer ou não. Estamos mantendo a conversa em aberto e vamos praticamente todos os dias conversar com os alunos para saber como estão. Não vimos nenhum acidente, houve apenas um pequeno detalhe que, acredito que foi quando eles foram colocar as faixas de interditado, um guarda estava proibindo eles de entrarem ao prédio. Foi só essa, mas conversamos com ele e foi só isso que aconteceu.

Agência Da Hora - Eu conversei com seguranças aqui da universidade, e um deles se declarou favorável ao que os alunos estão fazendo – até contribuiu com alguns materiais que não são utilizados no campus. O que os alunos relatam é que um dos seguranças prendeu alguns alunos no prédio central e que aquele que os “soltou”, foi punido com o turno dobrado. A direção tem conhecimento deste fato?

Arci Wastowski - É a primeira vez que eu escuto isso. Eu só sabia do incidente envolvendo a colocação das faixas. Os alunos haviam comentado três dias antes, em relação as salas do prédio central. Eu avisei todos os seguranças, só que esse segurança – que eu não sei quem foi – ficou preocupado e ligou para o Igor (Senger, vice-diretor). Esse outro incidente eu não sabia, não chegou a nós. Tanto que os alunos chegaram ontem (23) e comentaram comigo sobre o outro incidente. Só se eu não entendi bem. Disse para os alunos, que o que foi feito eu concordo com ele (segurança), porque ele não sabia o que estava acontecendo e ligou para nós. É até estranho, porque eu conversei com os seguranças e disse para eles não interferirem, independente se é contrário ou a favor. Não é para ficar trancando porta e ou correndo atrás de quem é a favor ou contrário. A função deles é cuidar do patrimônio e cuidar para não ter atrito. Vou verificar de onde saiu essa ideia – se foi dele ou de outra pessoa -, porque nossa não foi.

Agência Da Hora – Como a direção recebeu a notícia das ações que seriam tomadas? Já que esta é a primeira vez que isso acontece no campus.

Arci Wastowski - Nós já esperávamos. Porque nós já víamos o movimento nas escolas, e vimos que isso seria natural. É um movimento que está crescendo, e entendemos que seria natural acontecer aqui também. O que me estranhou foi da maneira como foi feita. Na sede, eles “trancaram” o prédio inteiro e como os alunos aqui não concordaram, foi feito só em uma parte. Mas isso foi uma decisão dos alunos.

 

"Eu não posso abandonar o cargo, porque estou na chefia. Sou obrigado a ficar aqui"

 

Agência Da Hora – Um dos pontos que o reitor colocou em nota publicada foi justamente para manter o diálogo. Então como está sendo o diálogo com os alunos que estão na ocupação?

Arci Wastowski - Nós estamos com as portas abertas. Estamos praticamente indo todos os dias para ver como que está. Estamos em contato com professores que estão junto com os alunos – o professor Reges (Schwaab, coordenador do curso de Jornalismo), a professora Luciana (Carvalho) – para saber como eles estão vendo, já que estão junto com o movimento. O que os alunos têm que entender, é que nós como gestores, não podemos chegar e falar “vamos lá, vamos fazer”. Não podemos. Eu sou muito contrário a PEC, só que como gestor eu me preocupo. Como ocupação é uma coisa nova, eu me pergunto até que ponto nós (direção) podemos influenciar ou ter atrito, então por isso nós também não escrevemos uma nota.

Agência Da Hora – Mas vai ser publicado algo oficialmente ou esta entrevista vai ser o posicionamento oficial?

Arci Wastowski - Acho que essa entrevista vai esse momento. Se precisar, faremos uma nota e publicamos.

Agência Da Hora – Como está sendo esta relação com os alunos que estão ocupando as dependências do Departamento da Comunicação?

Arci Wastowski - O que vejo é que a briga não é contra nós (direção). É contra um governo que está implementando uma medida que vai ter redução para todo mundo. Eu por exemplo, com 10 anos de campus, se a PEC ficar por 20 anos, eu vou me aposentar com a PEC. Toda a minha profissão vai ser prejudicada. Me preocupa muito. Mas como estamos representando tanto os que estão ocupando, como os que não estão ocupando, nós não podemos nos manifestar tão visivelmente. Nós falamos, mas não tentando ir muito a fundo nisso. As categorias são livres para escolher o que querem fazer.

Agência Da Hora - Mesmo com essa liberdade, o senhor acha que há medo de ter represálias?

Arci Wastowski - Eu noto que há um medo. Mas não sinto que isso (represália) seja realmente possível de acontecer. Até porque a partir de amanhã (quinta-feira), a maioria dos alunos vão embora e o campus vai esvaziar. Então qualquer ação não vai ter nenhuma represália.

Agência Da Hora – Como está sendo o contato com a sede?

Arci Wastowski - Acompanhamos pela divulgação que é feita, e ele vai na mesma linha de conversa. Claro que há professores que abriram processos judiciais pedindo o retorno das aulas, mas vejo que o Ministério Público está voltando atrás.

 

"Acredito que em, mais ou menos, cinco anos, não vai ter mais dinheiro para pesquisa e manutenção, e aí vai começar o sucateamento das universidades"

 

Agência Da Hora - O diálogo entre os alunos da ocupação, com professores que são contrários, está sendo satisfatório?

Arci Wastowski - Eu não sei se tem diálogo. O único diálogo que eu tenho, é com os professores que são a favor da ocupação. Os contrários eu praticamente não tenho contato. Sinto que eles não têm muita vontade em saber o que está acontecendo. A maioria é contra, mas preferiu terminar o semestre. Essa semana foi chave para terminar o semestre, então a partir de agora temos até que ver como vai ficar, em relação a votação da PEC.

Agência Da Hora – Em relação as dependências das universidade, especificamente chuveiro e cozinha, os alunos da ocupação podem utilizar?

Arci Wastowski - Temos dois chuveiros e está tranquilo quanto a isso. Mas cozinha, já que todos os servidores que usam, nós não disponibilizamos para os alunos que estão ocupando para não ter atrito. Não é porque não queríamos, mas vimos que há pessoas contrárias e na conversa que tivemos, foi combinado que utilizariam um apartamento de um colega na Casa do Estudante para guardar o material que receberam. Isso eu deixo bem claro, que é por causa dos atritos que nós imaginamos que poderia dar.

Agência Da Hora – O senhor concorda com essa mobilização que os alunos fizeram e acredita que pode dar algum tipo de resultado?

Arci Wastowski - A minha opinião, como professor, é que as categorias deveriam se mobilizar e fazer manifestações em Brasília, diretamente no ponto. Acho que ela é válida aqui, mas ela se torna pequena, fraca, no sentido de ser longe da mídia. Então acho que as universidades, os sindicatos, DA’s, DCE’s, deveriam se juntar e fazer lá, já que a votação vai ser em Brasília.

Agência Da Hora – Como a PEC impactaria nos investimentos do campus?

Arci Wastowski - O orçamento vai ser aumentado via inflação. A partir de 5 ou 6 anos que vai começar a cortar, principalmente cortes em pesquisa. Porque esse investimento vem de modo indireto para a universidade. Ele não sai do governo federal para a universidade, esse dinheiro passa pela Capes, CNPQ e depois a universidade. Esse é o nosso maior desafio como professor, a pesquisa. Isso me preocupa, pois muitos de nossos professores tem perfil de pesquisador. Nós seremos fragilizados pela PEC, porque vai diminuir o capital – e esse é o nosso maior medo -, que é de onde sai o dinheiro para ampliar a infraestrutura.

O que vamos certamente fazer é nos unir com o IFFar. Não tem como construir um novo restaurante universitário, um auditório. Na sede é mais fácil, são vários prédios que possuem uma boa infraestrutura. Eu poderia até utilizar algumas coisas do campus de Palmeira das Missões, mas é inviável. Acredito que em, mais ou menos, cinco anos, não vai ter mais dinheiro para pesquisa e manutenção, e aí vai começar o sucateamento das universidades.


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