Maiores, mais pesados e... Mais velozes?
Mudanças promovidas pela FIA aumenta o tamanho dos carros em todos os quesitos, mas mesmo assim, pilotos realizam tempos mais baixos na nova temporada
(Foto: Dilulgação FIA)
A temporada da Fórmula 1 de 2017 teve início com a vitória de Sebastian Vettel no GP da Austrália e já pôde-se ver qual será o ritmo do campeonato neste ano, afinal, Vettel e a Ferrari não estavam entre os mais cotados para vencer a primeira prova. Com as novas mudanças técnicas implantadas pela FIA, os carros tiveram que ser totalmente reformulados para a competição.
Agora os “possantes” estão 20 centímetros mais compridos e mais largos, ou seja, em 2016, os automóveis da modalidade possuíam 1,8 metros de comprimento e 1,4 metros de limite máximo para a largura, agora, as equipes remodelaram seus respectivos carros para terem no máximo 2 metros de comprimento e 1,6 metros de largura. Além destas alterações, as asas dianteira e traseira também tiveram seus tamanhos alterados. Enquanto a asa dianteira teve sua dimensão alterada para 1,8 metros, a asa traseira ficou mais baixa e maior, ao ter 80 centímetros de altura e 95 centímetros de largura. Com todas estas alterações, a FIA admitiu no novo regulamento da competição que os carros pesem mais. De 700 quilos, os automóveis passaram a ter como peso máximo 722 quilos.
Após essa “tijolada” de números no seu colo, você provavelmente deve estar se perguntando: o que esses míseros centímetros mudam no carro? Realmente, as mudanças aparentam ser pequenas, mas neste caso, os números mentem. Afinal, como diz o título desta reportagem, os automóveis estão maiores, mais pesados e mesmo assim, estão mais velozes.
Com o aumento no tamanho das asas dianteira e traseira, respectivamente, cresce a força que age sobre o carro para permanecer no chão, conforme explica o professor Francisco Brójo, presidente do Departamento de Ciências Aeroespaciais da Universidade da Beira Interior (UBI). De acordo com Brójo, essa alteração permitirá que os carros sejam mais velozes também nas curvas.
– A asa dianteira é uma parte que ajuda a segurar o carro a estrada. De modo que a asa que está colocada na parte da frente, quando recebe o ar, empurra a frente do carro para o chão. Isso é um aumento de segurança que permite que a força que empurra o carro contra o chão seja mais elevada e isso vai permitir que nas curvas, o carro possa circular em uma velocidade mais elevada sem perder a aderência – afirma. Já o jornalista do portal GloboEsporte.com, Lívio Oricchio, os
carros contornam as curvas até 40km/h mais rápidos nesta temporada.
Ainda segundo Brójo, a asa traseira possui a mesma utilidade, de manter o carro junto à pista. A diferença para esta temporada é que, apesar de ter 1,8 metros, a asa dianteira não é reta. A parte frontal da asa, ou seja, a primeira que recebe o ar, possui uma pequena curvatura de 30º, formando um pequeno “bico”. Mas o docente da UBI pondera que, além de a angulação mudar de acordo com as pistas – para circuitos com mais curvas, os carros devem ter uma angulação diferente para que seja mais rápido – isso pode deixar o carro menos eficaz em uma reta. “Se temos mais força para manter o carro ao solo, temos menos velocidade limite em reta. Somos mais rápidos em curva, mas conseguimos atingir menos velocidade em reta. E quanto maior a velocidade, maior é a força sobre o carro para que ele permaneça ao solo”, frisou.
Mas por que os números mentem?
Os carros tiveram o limite de peso aumentado, de 700 para 720 quilos, mas mesmo assim, os tempos foram diminuídos brutalmente. Teoricamente, com o aumento do peso, os carros ficariam mais lentos, mas com as reformulações em outras partes do veículo, a estimativa da FIA para a temporada, era tornar os carros de 3 a 5 segundos mais rápidos por volta.
No primeiro Grande Prêmio da temporada, a estimativa da entidade foi confirmada. Em 2016, Nico Rosberg venceu o GP da Austrália com o tempo total de 1h48min15seg, enquanto Sebastian Vettel conquistou a vitória ao completar o circuito em 1h24min11seg, ou seja, com as reformulações nos carros, o tempo foi diminuído em 24min4seg.
Atualmente com 720 quilos de limite, a relação peso-potência não sofreu alteração, já que os motores estão mais potentes. Na temporada passada as escuderias podiam fabricar um carro com até 700 quilos e, utilizando a Ferrari de Vettel e Raikkonen como exemplo, que possuía um motor de 970cv de potência, a relação peso-potência era de 0,72kg/cv. Já em 2017, os pilotos terão que controlar de 722 quilos (mais 105 kg, equivalente ao combustível), porém, de acordo com o jornal La Gazzetta Dello Sport, o motor da Ferrari para esta temporada terá 1000cv de potência, ainda com possibilidade de quebrar esta barreira durante a competição. Logo, a relação peso-potência do veículo continuará com os mesmos 0,72kg/cv, por isso o peso não interfere no aumento da velocidade dos carros.
O professor da UBI, Francisco Brójo, explica também que as alterações foram realizadas para que o piloto, em alta velocidade, possa ter mais estabilidade durante a corrida, entretanto, pondera que o aumento, tanto da aderência como da estabilidade dos carros, não garante segurança total ao piloto. “Se não houve alguma outra limitação a nível de motor, isso significa que os carros vão ser mais rápidos. E por andar mais depressa não quer dizer que sejam mais seguros. Depende muito se a equipe fizer algo mais nos limites (de velocidade)”, explica. Resta agora, durante a temporada, saber se o recorde de velocidade máxima atingida por um carro será quebrado.