Os Dragões que desafiam até São Jorge
Conheça a Super Dragões, a torcida organizada que possui um time de futebol que ninguém quer enfrentar e canta que tragédia deveria ter acontecido com o Benfica, seu maior adversário
Em partida válida pelo Campeonato Português de Handebol, a torcida organizada do Porto, a Super Dragões, cantou que o jogadores do Benfica deveriam estar no avião que matou a delegação da Chapecoense (Foto: Ricardo Castelo/NFactos)
É normal que toda equipe de futebol possua uma torcida organizada que garanta o apoio em partidas dentro e fora de casa. No entanto, em Porto-POR, os níveis de torcida radical foram elevados à enésima potência.
O filho mais rico do futebol da cidade, o Porto, é mundialmente conhecido por ser o clube que projetou o técnico José Mourinho ao planeta bola e também tem como uma de suas referências os Super Dragões, nome dado a maior torcida organizada do clube. Os torcedores filiados ao “clã” tem como característica comum serem extremamente apaixonados pelo FC Porto, além de seguir o clube em todos os cantos do planeta, em diferentes modalidades, não apenas no futebol.
O problema é que os adeptos dos Super Dragões não se limitam apenas em torcer pelo alviazul lusitano. A torcida organizada já foi assunto aqui no site da Agência Da Hora, quando policiais afirmaram que os adeptos vendem ingressos clandestinamente para jogos do FC Porto. Recentemente, a torcida organizada tomou conta dos noticiários não pelo seu amor ao clube, mas sim devido a uma série de fatos lamentáveis. O último deles ocorreu durante o Campeonato Nacional de Handebol, o qual membros da Super Dragões entoaram cânticos direcionados ao Benfica – seu maior rival no país e adversário da rodada – e relacionando o avião que vitimou integrantes da delegação da Chapecoense. Os torcedores cantavam “Ah, quem me dera que o avião da Chapecoense fosse do Benfica”, repetidas vezes. Clique aqui e veja a cena.
No Brasil, a ação da torcida organizada gerou revolta em pessoas e na mídia do país, enquanto a diretoria do clube catarinense emitiu uma nota oficial repudiando o cântico. A nota diz que a ação dos torcedores do Porto “não são próprios de pessoas de bem e do meio esportivo, cujo ambiente deve ser sempre de respeito e solidariedade ao adversário e não de propagação de ódio e cizânias, mormente nos conturbados tempos atuais da humanidade”.
Já em Portugal, tanto Benfica, quanto a Federação Portuguesa de Handebol, também emitiram uma nota contra o ato dos torcedores. Um dos trechos da nota publicada pelo Benfica diz que “este triste episódio, que a todos nos envergonha e que estamos certos em que ninguém se pode rever, sirva para todos refletirmos sobre as nossas responsabilidades e contribuirmos para parar este clima de tensão”.
Os responsáveis pela Super Dragões pediram desculpas pelo ocorrido, alegando que o canto não passava de uma “sátira” ao Benfica, além de mencionar que isso não irá se repetir.
Mas não é apenas nas arquibancadas que os adeptos do Super Dragões chamam as atenções. A torcida organizada formou a sua própria equipe de futebol, o Canelas 2010 e desde então, o clube ficou conhecido pelo modo como chegou às fases finais do Campeonato Distrital de Porto.
Durante a sua campanha na primeira fase desta temporada, as equipes se recusavam a enfrentar o Canelas e preferiam pagar uma multa de 750 euros do que entrar em campo. O presidente do Grijó, Manuel Gomes, uma das equipes envolvidas na competição afirmou ao El País Brasil, que nada é relatado na súmula. “Somos coagidos, os árbitros se sentem intimidados e não registram nas súmulas o que acontece. Como nada chega às comissões, ninguém age”, afirma o dirigente.
A equipe encerrou a sua participação na primeira fase do Campeonato Distrital com 24 vitórias, um empate e uma derrota, em 26 jogos, garantindo vaga para a próxima fase da competição. Atualmente, o clube que tem como capitão o líder da radical torcida, Fernando Madureira, também conhecido como “Macaco”, está na quarta colocação da segunda fase com apenas três pontos em três jogos disputados e foi justamente no último jogo do Canelas nesta fase, no dia 2 de abril contra o SC Rio Tinto, que o clube teve todos os holofotes voltados para si novamente.
Canelas 2010, formado por membros da Super Dragões, em sua última partida pelo Campeonato Distrital de Porto (Foto: João Duarte/Divulgação)
Com apenas dois minutos de partida, o atacante Marco Gonçalves foi expulso de jogo e, insatisfeito com a decisão, agrediu o árbitro José Rodrigues com uma joelhada. O árbitro foi encaminhado ao hospital com fraturas no nariz, enquanto a partida foi encerrada e não será remarcada. Na segunda-feira, 10, o atacante foi suspenso pelo Conselho de Disciplina da Associação de Futebol do Porto (AFP), enquanto o Ministério Público português impediu Gonçalves de entrar em contato com árbitros, além de ser proibido de ir a estádios.
É apenas questão de tempo para saber quando e onde os Super Dragões irão atacar novamente, afinal, como diz o título que abre esta reportagem, os adeptos “peitam” até São Jorge.